sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Da Terra Prometida para a Terra Prometida - parte 01

Israel está sempre nas manchetes, e as notícias são invariavelmente ruins. A difícil situação dos palestinos, as constantes ameaças do presidente do Irã, os ataques suicidas e vários rumores de uma possível guerra geram uma ansiedade constante que se estende por todo o mundo. Mas quando isso se refere a jazz Israel é uma fonte de um talento quase transbordante, uma tsunami que atingiu o cenário de Nova York no ano passado. Pelo menos uma dúzia de artistas alcançaram um nível invejável de reconhecimento, incluindo o baixista Omer Avital e os irmãos Cohen: o saxofonista Yuval, a clarinetista Anat e o trompetista Avishai (não o baixista com o mesmo nome, que se recusou a ser entrevistado para este artigo).
Enquanto muitos artistas israelenses se dedicam ao estilo convencional, alguns estão criando uma abordagem mais pessoal, com uma palheta de sons vindas do Oriente Médio e da África do Norte. Entre o número florescente de artistas notáveis e o crescimento das influências de seus conceitos envolventes sobre o jazz, o contingente
de israelenses em Nova York claramente atingiu o seu divisor de águas em 2007, e o fenômeno parece estar ganhando forças, já que todo mês aparece um novo artista promissor vindo da Terra Prometida.
Nada animou mais os músicos como o aparecimento repentino da Anzic Records.
Enquanto a nova onda israelense vem sendo construída por quase duas décadas, foi necessário aparecer uma gravadora especializada e bem financiada para transformar o bom em um fenômeno. Com o apoio de Colin Negrych, diretor de um poderoso fundo
de investimentos em Wall Street chamado Barclay Investments Inc., Anzic lançou nove álbuns no ano passado, incluindo álbuns altamente aclamados do trompetista Avishai Cohen, do pianista Manuel Varela, do pianista Jason Lindner e do saxofonista Joel Frahm. Com o trocadilho criado através da combinação do seu nome com a última sílaba da palavra “music” (lê-se “muzic), a metade dos lançamentos da gravadora até agora é devotado a seus projetos, já que Anat Cohen é intrinsecamente ligada às criações da Anzic. Mas apesar do fato de muitos álbuns lançados pela Anzic serem de artistas israelenses, a gravadora não foi criada para ser um lugar étnico.
“A missão desta gravadora não é ser um lugar étnico”. Diz Oded Lev-Ari, gerente geral da Anzic. Lev-Ari, um discípulo da prestigiada Escola de Artes Thelma Yellin em Tel-Aviv, e também um arranjador respeitado responsável por colocar o exuberante álbum Poetica por Anat Cohen nas paradas de sucesso. Como uma boutique em operação movendo-se de um modelo filantrópico para um modelo mais comercial a Anzic tem como objetivo descobrir e promover um pequeno grupo de artistas incrivelmente criativos e que correm o risco de serem ignorados, de acordo com Lev-Ari.




“Nós começamos dizendo que somos especializados em jazz e músicas de ritmos latinos, africanos, e asiáticos (world music), mas eu particularmente gosto de dizer que nós somos especialistas em boa música.” ele diz. “A nossa missão é trazer a boa música que está passando por momentos difíceis para se apresentar para o público correto. Nós temos artistas que não são israelenses, mas o ângulo israelense como um todo tem sido uma grande vantagem. Uma coisa que temos apre
ndido sobre revelar novos artistas é a necessidade por uma história, e, se alguém vem de um lugar diferente, isso já é uma história. Algumas vezes essas origens são refletidas na música, apesar de não ser a primeira coisa que eu falaria sobre a música de alguém. Mas há um grupo de músicos aqui em Nova York que criaram um som diferente, e alguns são de Israel. Então musicalmente é um fator bem interessante para se falar.” O sucesso dos israelenses e o apoio que cada um deles fornecem não tem passado despercebido. Como em qualquer cena artística com oportunidades limitadas e com uma audiência de aficionados, a onda israelense vem deixando alguns colegas não israelenses com ciúmes. Para o trompetista nascido em Oakland Amrbose Akinmusine, a solidariedade israelense oferece um modelo a ser seguido e não a ser desprezado. “Muitas pessoas em Nova York tem uma atitude egoísta, de só pensarem em si próprios, e é muito bonito ver que eles permanecem juntos” fala Akinmusire, uma estrela em ascensão que ganhou no ano passado a Competição Internacional de Trompete de Thelonious Monk. “Se eles não merecessem esse reconhecimento, seria uma coisa, mas eles merecem, então não há como sentir inveja ou ciúmes. Avishai Cohen é um dos meus trompetistas favoritos, apesar de eu achar que eles estão tendo mais atenção na mídia por causa do apoio dado a eles.
Uma das razões pelas quais a onda israelense vem chamando tanta atenção é porque isso parece tão improvável. Um pequeno país com uma população de 7 milhões espremidos em um território menor que Nova Jersey, Israel pode reivindicar algumas semelhanças com a diáspora da África do novo mundo. Ainda depois de Cuba, nenhum cidadão de países estrangeiros estão tendo um papel mais visível e essencial no cenário novaiorquino ultimamente. As razões são muitas e complexas. Desde os padrões de imigração e a dura cultura, prática israelense, até o sistema elogiado de educação, que adotou o jazz em uma extensão extraordinária. Quase todo mundo associado ao cenário israelense possui uma ou duas teorias para explicar como e porque Israel tem se tornado uma potência em se tratando de novos talentos para o jazz, se bem que os próprios artistas estão confusos pela maneira como a música tem florescido milhares de milhas do seu ponto de origem.
O trompetista Avishai Cohen, cujo álbum After the Big Rain lançado pela Anzic esteve incluído em muitas listas das dez melhores músicas de 2007, resumiu inúmeras explicações difundidas, atribuindo o sucesso de Israel em cultivar músicos promissores de jazz à sua posição singular no Oriente Médio. Sendo tanto um pária para seus vizinhos árabes ou um porto seguro para um contingente mundial de imigrantes, Israel é uma panela de pressão contendo um leque de ingredientes culturais deslumbrante. E com o seu poder expressivo, jazz é uma válvula de escape para pessoas que vão dormir imaginando se eles acordarão na guerra.
“Toda essa tensão leva as pessoas a irem um pouco mais adiante, a dizerem coisas que elas realmente querem dizer naquele momento, sem se preocuparem com o futuro.” Diz Cohen, que toca com Anat e Yuval na banda 3 Cohens. “E em Israel as pessoas chegam de todas as partes do mundo. Há pessoas da Europa Oriental, e todas as influências vindas da Rússia, Alemanha e Polônia , que misturam ritmos do lado sefardita, os 6/8 grooves marroquinos. Ainda assim, eu não acho que jazz seja uma direção óbvia a se seguir. Apesar de termos excelentes músicos de jazz em Israel, ela não é a musica que se ouve nas rádios ou que qualquer escritório governamental obrigue a escutar. Eu acredito que esta se tornou a escolha de muitos novos artistas graças a poucas pessoas que disponibilizaram o ensino de jazz nas escolas.” Como a maioria dos artistas israelenses morando em Nova York, os Cohens se beneficiaram das experiências da geração anterior a eles. Alguém pode traçar as raízes dessa nova onda desde a década de 60, quando os artistas israelenses se matricularam no Instituto de Música Berklee. Poucos deles, como o pianista Yaron Gershovsky do Manhattan Transfer alcançaram sucesso nos Estados Unidos,mas a maioria acabou voltando para suas origens, aonde eles espalharam o evangelho do jazz em Tel-Aviv e em Jerusalém. Quando o guitarrista Roni Ben-Hur se mudou para Nova York em 1985 para estudar no “Jazz Cultural Theater” pertencente ao pianista Barry Harrys, jovens artistas israelenses talentosos viram jazz como uma alternativa criativa à tradição européia clássica.
“Naquele tempo muitos israelenses estavam indo para os Estados Unidos e estudando em Berklee.”Ben-Hur explica. “O papel da música fala ao espírito israelense. É muito rítmico e desafiador e há muita liberdade envolvida. É necessário perceber que Israel é uma mistura de raças e culturas, como Nova York. Minha família veio da Tunísia, e no lugar aonde eu fui criado havia vários tunisianos, marroquinos, poloneses e romenos [judeus]. Vários músicos pop israelenses incorporam esses ritmos e estilos. E israelenses adoram misturar estilos. É uma sociedade muito livre e com esse espírito, dizer o que você pensa e fazer o que você gostaria de fazer está dentro de nós. Nós somos encorajados a ser individualistas e expressivos.
Israelenses não dividem somente a ética americana do individualismo, mas eles também celebram a identidade nacional ao receber imigrantes. Enquanto a maioria dos judeus americanos são asquenasis, com ancestrais vindos da Europa Central e Oriental, um terço dos judeus israelenses são mizrahim ou judeus orientais, de famílias que saíram de paises árabes, em especial do Iêmen , Marrocos, Tunísia, Iraque e Síria. Muitos outros se originam de comunidades anciãs do Irã, Índia, Etiópia e Ásia Central. Encima dessa diversidade étnica interna, a cena da música popular israelense se mistura, pulsa ao samba, reggae e ritmos afro-caribenhos, enquanto os estilos árabes e turcos podem ser ouvidos em todos os lugares. Poucas sociedades podem preparar jovens músicos melhor para a investida poliglota a Nova York do que Israel.
O saxofonista Larry Monroe, vice presidente dos programas internacionais do Instituto Berklee vem observando o aumento de músicos israelenses no instituo por mais de cinco décadas. Ele tem criado várias explicações porque os alunos israelenses estão tão desproporcionalmente representados entre os melhores alunos de Berklee. “Os professores israelenses são sérios e mais rigorosos. Eles possuem algumas escolas de artes maravilhosas e o conservadorismo é muito grande até que os alunos aprendam a tocar bebop e swing antes de deles poderem tocar livremente. Você encontra adolescentes de 15 anos tocando músicas obscuras da década de 40. Como você pode ter encontrado isso? Eles se encontram do outro lado do mundo; e sabem que tem que fazer mais do que a média se eles quiserem estudar nos Estados Unidos.”
Ele também observa que a maioria dos alunos da primeira onda de israelenses que foram estudar nos Estados Unidos retornaram a Israel depois de alguns anos e muitos acabaram se tornando professores de música. Por volta dos anos de 90 uma massa de fãs e músicos emergiram em Israel, alimentando esse meio próspero. Com instituições como Escola de Artes Thelma Yellin aspirantes a músicos israelenses puderam receber uma educação de nível mundial e que agora inclui uma fundação de jazz completa. “Se eu tivesse apenas três dias para encontrar 10 músicos de jazz muito bons, iria para Tel-Aviv antes de qualquer lugar no planeta.” Diz Monroe. “É um país muito pequeno, todo mundo se conhece e todos os melhores músicos do país se conhecem desde a escola primária.” Não é somente um cenário fechado e uma referência para a educação que explica o alto nível de musicidade. Monroe observa que a maioria dos israelenses que vão para os Estados Unidos estudar depois de terminar o serviço militar, o que significa que eles são alguns anos mais velhos do que seus colegas e que algumas vezes são muito mais experientes do que a média dos calouros. Como Avishai Cohen e Ben-Hur, ele também vê fatores culturais envolvidos. Uma vez que qualquer nacionalidade pode ser caracterizada (ok, estereotipada), é seguro descrever a cultura israelense como direta e franca. Depois de seis décadas de vida em uma sociedade militarizada e preparada para a deflagração da guerra, os israelenses não são conhecidos por medir palavras ou se retrair dos conflitos. Munidos de disciplina, talento e acesso a informação, essas qualidades parecem permitir que muitos músicos israelenses prosperem nessa estufa criativa que é Nova York.
“Eu não acho que se possa derrotar os israelenses com críticas.” Fala Monroe. E eles não são derrotados por Nova York. A subida para a proeminência é uma série de obstáculos que nem todos podem ultrapassar. Há um processo de se adaptar e os
israelense possuem artifícios em suas origens que fazem eles resistirem. Eu sempre gostei de ensinar os israelenses. Alguns professores não gostam de ensiná-los porque são exigentes. Você não pode elogiá-los e dizer que são ótimos. Eles não só trabalham juntos como também fazem críticas construtivas entre eles, sem machucar seus egos. Um dos grandes desafios para um novato é que ele deve desenvolver a habilidade de ser genuinamente auto-crítico, ir para um quarto e praticar durante o dia inteiro e poder dizer “Eu ainda não consegui pegar.” Os alunos israelenses odeiam que se diga que eles estão indo bem. ‘Eu’ sou um adolescente de 19 anos, o que eu posso saber? Me dê algo que eu possa praticar!”
Israelenses não criaram um meio vibrante de jazz no Oriente Médio por si mesmos. Inúmeros músicos americanos tiveram um papel crucial e nenhum foi mais importante do que o saxofonista Arnie Lawrence, um carismático saxofonista e educador que lançou um programa inovador de jazz na escola New School de Nova York. Casado com uma israelense, ele se mudou para Israel em 1997 e em pouco tempo ele fundou o Centro Internacional para Música Criativa (International Center for Creative Music) em Jerusalém. Um idealista determinado, ele criou um espaço aonde judeus e árabes podiam tocar juntos, não tanto por razões políticas, mas por pura sensibilidade humanista.
“Ele honestamente acreditava na seguinte frase de pára-choques de caminhão ‘Paz através da Música’ e no seu mundo isso era verdade,” o filho de Arnie, Erik Lawrence diz. Erik é um bom saxofonista na sua própria maneira que viaja com a banda de Levon Helm e lidera o quarteto Hipmotism formado pelo trompetista Steve Ernstein, pelo baixista René Hart e pelo baterista Allison Miller. “Durante um verão eu estava lecionando em um acampamento de jazz com o baixista Mike Richmond e eu mencionei que estava indo tocar em Jerusalém. Mike estava tocando com Simon Shaheen [mestre do violino e oud palestino] em um clube em Ramallah. Quando eu disse para o meu pai, ele carregou seu carro, um Jaguar modelo sedan 1982 branco, uma porcaria que ele havia levado para Israel, e dirigiu-se a Ramallah com seus alunos e foi para o clube, e chegando lá se senta com Shaheen. Após este acontecimento seus alunos passaram a tocar neste clube semanalmente.

Se a campanha mundial de Lawrence para amenizar as amargas diferenças políticas entre os judeus israelenses e os árabes não deu frutos, os seus esforços para disseminar as sementes de jazz no Oriente Médio produziram alguns florescimentos extravagantemente talentosos. Trabalhando em seu clube em Jerusalém, chamado “Arnie’s Jazz Underground” ele recebia músicos que entravam no clube e os encorajava a tocar. Entre os músicos que ele treinava estavam os irmãos Cohen, em particular Anat Cohen. Em uma bonita diáspora ao contrário, foi necessário um judeu de Nova York trazer o poder espiritual do jazz para a Terra Sagrada. “Arnie foi muito importante para mim,” diz Anat Cohen. “Ele trouxe a vibração de Nova York, mas não os cotovelos calejados. A vibração que herdei de Arnie foi que primeiramente somos todos iguais, o que não posso dizer que seja a típica abordagem de Nova York. Ele expressou isso na sua gentileza com cada pessoa que ele conhecia, e assim era musicalmente também. Mas a coisa mais importante que eu herdei de Arnie e que eu nunca encontrei antes foi toda essa abordagem espiritual da música como uma forma de comunicação com as outras pessoas. Eu aprendi a procurar e encontrar beleza na música. Ele sempre falou que eu não deveria me sentir intimidado, e que era muito importante se sentir seguro sobre si mesmo. Ele era muito profundo e sempre me apoiava. Eu devo tudo a ele.”

O saxofonista tenor Walter Blanding, melhor conhecido por sua longa associação com Wynton Marsalis e a orquestra “Jazz at Lincoln Center Orchestra” é outro americano que ajudou a colocar o cenário israelense no nível dos melhores do mundo. Assim como Lawrence o casamento de Blanding com uma israelense o levou ao Oriente Médio. Ele e sua esposa se mudaram para Israel em 1995 e antes da sua volta para os Estados Unidos em 1999 ele se tornou cidadão israelense. Alocado em Tel-Aviv, a maior cidade israelense e a capital cultural do país, ele lecionou em quatro escolas e lançou uma série popular de concertos com o apoio do Museu de Arte de Tel-Aviv que apresentou artistas importantes, tais como Michael Carvin, Wycliffe Gordon, Louis Hayes, Vanessa Rubin, Marcus Printup, Marlon Jordan e Eric Reed.

“ Eu acabei aparecendo em quase todos os programas de televisão.” Relembra Blanding. “E eu tive a oportunidade de conhecer vários músicos e pessoas interessantes,como os Cohens, Anat ,Yuval e Avishai; o baixista Avishai Cohen e o trombonista Avi Lebovich. Eu acredito que muitas pessoas que tem vindo a Nova York é em parte devido a uma conexão entre Israel e Estados Unidos. Eles realmente acreditam em educar seus filhos sobre culturas de todo o mundo, e há um apoio muito forte para aprender todas as artes, o que tem algo a ver com a aceitação e apreciação do jazz.
Educação é a chave de tudo.”
Educação e ambição proporcionam o combustível, mas em um local como a plataforma de lançamento, um cenário não sai do lugar por si só. Antes da década de 90 os músicos israelenses como Roni Ben-Hur tiveram que procurar seus próprios caminhos no cenário americano sem a ajuda de outros israelenses. Mas bem antes do baixista Avishai Cohen, Omer Avital e Avi Lebovich chegarem em Nova York, o West Village club Smalls (clube de jazz) abriu e rapidamente se tornou o quartel general para uma crescente geração de músicos tais como os saxofonistas Mark Turner e Josh Redman, os guitarristas Kurt Rosenwinkel e Peter Bernstein, o baterista Brian Blade e os pianistas Brad Mehldau, Aaron Goldberg, Jason Lindner e Larry Goldings (bem como os veteranos não muito apreciados como Frank Hewitt, Tommy Turrentine e Jimmy Lovelace). O fato de que muitos israelenses serem participantes chaves tornou Smalls um ímã para os aspirantes a músicos israelenses, enquanto poucos artistas americanos, particularmente Lindner e o baterista Daniel Freedman foram inspirados a incorporar os ritmos do Oriente Médio em suas músicas.
“Smalls foi um lugar central para essa geração, e aconteceu que fomos uma grande parte disso,” comenta Avital. “Era lá que se podia ouvir essa música. Anat Cohen iria vir de Berklee e seu irmão Avishai era ainda um menino quando ele veio pela primeira vez ao clube. Naquela época o cenário do jazz ainda não era desenvolvido em Israel. Quando Avi Lebovich se mudou para aqui comigo havia pouquíssimas pessoas de nossa geração ou da geração anterior, mas não era como se um grupo coeso de pessoas. Tudo aconteceu bem devagar. Nossa geração foi a responsável por mostrar o jazz, e mais tarde começamos a ser reconhecidos.”
Com a situação Israelense gradualmente ganhando força, o sucesso de uma série de músicos em Nova York parecia copiar o clássico padrão de imigração em que os pioneiros estabelecem uma comunidade-base que atrai novos imigrantes. É um processo auto-sustentado similar às famosas ondas musicais fraternais que inundaram da pós-guerra Detroit, Chicago, Filadélfia e Memphis para Nova York, aonde os colonizadores de Gotham empregavam e abriam portas para seus conterrâneos. Agora os músicos israelenses sempre chegam na cidade prontos a usar suas conexões. O guitarrista Gilad Hekselman, por exemplo, se mudou para Nova York com o objetivo de estudar na “New School” em 2004, e imediatamente começou a trabalhar com Anat Cohen. “Eu tive uma aterrissagem muito branda.” Diz Hekselman, que lançou um CD impressionante em seu debut, chamado Splitlife em 2006 pela gravadora Smalls. “ Eu comecei a tocar com Anat e a conhecer novas pessoas, a tocar em diferentes lugares.”
O show com Avital no Smalls depois que o clube reabriu proporcionou um começo para o fundador do local, Mitch Borden, que levou às sessões de jazz de Hekselman no Smalls e no Fat Cat, outro local pertencente a Borden, e ao lançamento do álbum. Além do apoio e das sessões de jazz fornecidas por uma crescente rede de israelenses criam uma suposição de competência para os recém-chegados. “Você simplesmente diz: ‘Eu sou de Israel’, e talvez os ouvidos dos outros músicos possam estar mais abertos,” diz Hekselman. O resultado é uma enxurrada de israelenses indo para Manhattan.
“Assim como na New School, todo ano há mais e mais israelenses,” diz Hekselman. “As pessoas sempre entram em contato comigo, querendo informações de como vir a Nova York, e essas perguntas são recorrentes: será que eu deveria me matricular em uma escola ou somente me mudar para Nova York? Me parece que esse fato só tende a aumentar. Nesse momento há pelo menos 20 israelenses na New School estudando jazz, o que é um grande número, se comparado a uma escola de trezentos alunos.”

(continua...)

Um comentário:

  1. Acompanhar a história dessa nova música instrumental que é gestada nas escolas de música e nos pubs novaiorquinos é fazer parte do processo. Consumir essa música, em tempos de partilha digital de capital intelectual, é contribuir para a evolução desse cenário onde o jazz proporciona a liberdade, a cidade aquece a mistura e o talento dos israelenses agrega as especiarias. Conheci Avishai e Anat. O primeiro é realmente muito jovem e talentoso. A segunda fala um português fluido e estraçalha musicalmente. O quê esperar desse cadinho borbulhante? Até jazz!

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